terça-feira, 30 de novembro de 2010

Você

A saudade.
Essa tal que me acompanhará pelo resto da vida...
Nunca foi tão grande, nunca foi tão difícil.
Não são os lugares, nem os objetos... São as pessoas que mais me provocam lembranças.
Cada uma que esteve com você, que viveu algo, me faz recordar.
Mas não posso reclamar, não quando pude viver tudo o que vivi.
Noites de leituras de livros à beira da cama, dias ensolarados em um clube qualquer, coca-cola no almoço, casa cheirosa no fim do dia, risadas de qualquer coisa, cobertor sem fazer vento, olha, mas olha bem, o que eu faço.
Não significa muito pra maioria mas, para nós dois, significa tudo.
Poderia ter feito muito mais, aproveitado mais, me importado mais.
Mas ainda assim, fiz muito. Fizemos muito.
Nada ficou pela metade.
Acho que a nossa amizade, o nosso companheirismo e o amor sem limites entre nós dois não pode ser apagado por coisa alguma. Sempre estará lá, nas minhas memórias, no meu coração.
E ninguém vai entender a minha dor, ou a minha alegria, quando te envolver.
Só nós dois sabemos, só nós dois.
Aprendi muito com você, muito mais da metade de tudo o que eu sei.
Você continua em mim e assim permanecerá, uma grande e importante parte do que sou.
E espera, que ainda nos encontraremos, tenho certeza.
Obrigado do fundo do meu coração por tudo,
mãe.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Amigos

Não sei como foi que aconteceu, eles só estavam lá.
E, à medida que os encontrava, simplesmente sabia.
Logo, lá estávamos nós, fazendo tudo o que podíamos, rindo, pulando, aprontando.
O que era zoação começou a virar uma espécie de cumplicidade, acertávamos juntos, errávamos juntos. Assumíamos os erros... Juntos.
Vimos uns aos outros mudar, de visual, de atitudes... Ficamos orgulhosos uns dos outros.
Infelizmente, alguns caminhos necessitam de sacrifícios... Alguns se distanciam, outros se aproximam.
Mas o respeito, a parceria, a confiança... Isso não muda.
Estamos juntos, pra tudo e pra nada.
Nossas conversas sempre serão nostálgicas, nossos pensamentos sempre estarão em sintonia.
Não importa o que aconteça, esse é um tipo de união que não acaba, caminhamos juntos, estaremos sempre ali pra levantar quem de nós precisar.
Porque somos amigos, escolhemos isso.
A amizade é uma das maiores preciosidades da vida de alguém.
Posso contar meus amigos nos dedos.
Eles estavam lá em cada momento da minha vida, do mais triste ao mais feliz, do mais inesquecível ao mais comum.
Sempre estiveram lá.
Sei que nossos filhos serão amigos, sei que nos encontraremos em churrascos de fim de semana com família e cachorro.
E até lá muita coisa vai acontecer, muito mudará. Mas a nossa amizade, não.
Somos amigos, é isso o que somos. Me orgulho disso.
Pra mim, é uma honra e um prazer.
Devo muito a vocês.
"Que nossos filhos tenham pais ricos e mães gostosas!". Amém.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Admirável "peso" novo

Ela ia começar a escrever um texto. Um texto sobre qualquer coisa que fluísse. Um texto daqueles que você faz de madrugada, depois de ter visto fotos ainda recentes de antigos amigos. Ela pretendia que ele se desenrolasse de uma frase que tinha em mente, uma frase apenas que doía no peito cada vez que ameaçava cuspi-la, e talvez por isso sempre a mantivesse muda. Escreveu: Quero meus amigos de volta. Eram três da manhã, e no exato segundo que clicou o ponto final, foi surpreendida por uma palavra de afeto, de uma amiga inesperada, num contexto inesperado. Quis chorar, quis sorrir, tremeu um pouco e pensou até em ignorar o sinal. Típico. Mas resolveu dar uma chance ao que, se ela acreditasse, chamariam de acaso. No caminhar da conversa, foi entendendo que se tratava mesmo de álcool e carência, e que o fato de provavelmente ser uma das únicas pessoas disponíveis no horário, fez com que ela fosse procurada naquele momento. Foi atenciosa, e respondeu tudo com muito carinho. Não era nada especial, não era uma tentativa de reparação. Porém, para ela, ainda sim era um sinal. Algo que ela definitivamente não conseguiria e nem saberia lidar. Mas que, por uma noite, depois de tantas carregadas de culpa, a faria se lembrar como era dormir tranquilamente com, no lugar de tantos desconfortáveis, um peso que a agradava sem tamanho. O da amizade.

Texto escrito por @jejesantana.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Deus

Hoje eu vi Deus em uma criança.
Ela não sabia bem o que estava acontecendo em volta, mas logo aprenderá.
Ela ganhará presentes legais no natal, chorará no primeiro dia de escola, e se apaixonará aos 11 anos por um garoto que provavelmente nunca saberá disso.
E logo ela se preocupará com o corpo, se irritará com a forma como o pai a trata, como se ela ainda fosse uma menininha quando, na verdade, já tinha treze!
Terá uma linda e inesquecível festa de quinze anos.
E se decepcionará com o primeiro namorado.
Muito provavelmente ela se casará, terá filhos.
Conhecerá lugares bonitos, terá um livro predileto, e sofrerá quando sair da casa dos pais.
Terá mais dias felizes do que triste, ainda bem! E sentirá saudades de quando ainda podia ser quem ela quisesse.
Mas, inevitavelmente, se perguntará um dia onde está Deus.
Quem Ele é, onde esteve durante todo esse tempo.
Ela terá se esquecido, ou talvez nunca soube, que é em vão tentar pensar em Deus de forma racional. Tentar explicá-lo.
Deus não é uma equação matemática, embora esteja nela.
Pode até ser que ela consiga, mas a melhor forma de entender Deus, é sentindo.
Se ela conseguir ver isso, perceberá que Deus esteve no sorriso do melhor amigo de infância dela, que Ele esteve no lindo dia de Sol no clube certa vez, que era Ele na imensidão do cerrado quando foi acampar com a escola. Ela se lembrará Dele na música da formatura do irmão, na primeira vez que andou de avião, no jardim da casa dela.
Logo perceberá que Deus esteve em cada momento que ela viveu, em cada emoção que sentiu, cada derrota e cada pensamento. Ele esteve em tudo.
Então, ela verá Deus em si mesma, como um dia eu vi.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

A árvore

Hoje não era um bom dia, definitivamente não.
Acordei atrasado e cansado, algumas coisas deram errado no trabalho, e o ônibus da volta demorou mais do que de costume.
Tive que ir em pé. Enquanto, dentro dos meus pensamentos, mandava o mundo pra puta que pariu, uma pessoa se levantou.
"Ao menos isso", pensei. E sentei.
Agora sei muito bem que aquilo não foi por acaso. Eu precisava estar sentado pra ver o que viria.
Fiquei olhando pela janela, vendo rostos e rodas passando muito depressa por causa da velocidade do ônibus.
Entre os prédios há muito velhos do Setor Central, algo estranhamente inesperado foi captado pelos meus olhos:
Uma árvore.
Mas não era uma árvore qualquer.
Ela era alta, de forma que tive que olhar para o céu para ver até onde ia, de tronco grosso e escuro que contrastava das folhas muito amarelas e vivas... Única.
A impressão que eu tive foi que ela estava em uma outra freqüência, em outro tempo. Parecia que ali o tempo passava mais lentamente.
As folhas que caiam dançavam suavemente até tocar o chão.
Aquela árvore não combinava com o lugar onde estava. Parecia um santuário entre a selva de pedra.
Senti paz, senti Deus.
Gostaria de poder ter ficado o resto do dia olhando para ela.
O curioso, é que há alguns meses eu estava escrevendo meu livro e tive a vontade de escrever sobre uma árvore que teria muita relevância pra trama. Imaginei ela, trabalhei a imagem dela nos meus pensamentos... Era linda.
Hoje eu pude vê-la no meio da rua.
Amanhã voltarei lá, só pra ter certeza que não foi imaginação.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O ônibus

Havia um velho e um menino sentados no ponto de ônibus.
Nada podia ser ouvido além do vento, quando o menino fez-se ouvir:
-Tio, de onde o ônibus vem?
O velho olhou com curiosidade para o menino pensando como uma mente tão nova pudesse fazer reflexões como aquela.
Por um momento, ele considerou explicar racionalmente, falar sobre a garagem, sobre o serviço que a empresa prestava à cidade. Mas então, ele se lembrou que um coração como aquele ainda não havia sido tocado com as verdades secas do mundo.
-Eles vêm de um lugar chamado "Amanhecer" - começou ele -, é um lugar que homem algum jamais pisou. As portas são feitas de nuvens, e há um arco-íris grande e colorido. Lá, só existe felicidade. O sol é mais claro, o mar é mais refrescante, e os ônibus são criados com o cuspe de dragões grandes e roxos.
Os olhos do menino brilharam enquanto ele olhava o final da rua.
O velho não sabia (como poderia?), mas o menino havia acabado de ser abandonado pela mãe, que disse que ele precisava pegar um ônibus enquanto ela ia a algum lugar qualquer.
Aquela história não levou o menino a nenhum lugar seguro, mas fez da viagem um fardo menos pesado.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Sonho

É uma noite qualquer de um dia qualquer.
Mas mesmo em noites como essa, a mágica é possível.
Quando ela acontece, você sente.
O sorriso é inevitável... E que sorriso, eu penso.
Nunca um abraço foi tão forte, quente e prazeroso.
Encaro aqueles olhinhos levemente fechados, incapazes de se abrir diante das lágrimas.
É o momento que eu levarei pro resto da minha vida...
A luz está na medida certa, não há pessoas para interromper.
Um silêncio maravilhoso se faz presente, mas não por completo.
No fundo, lá no fundo dos nossos ouvidos há algo...
É a trilha sonora da vida tocando desinibida, dando a sua graça.
E o que vem na minha cabeça é que alguém lá em cima está cuidando desse momento. Isso me trás a paz necessária.
Eu olho e penso no quanto ela é linda.
Sinto que faria qualquer coisa por ela, quero protegê-la, quero cuidar dela.
Sei que não serei verdadeiramente feliz com mais ninguém,
que eu sou encantado com cada qualidade, defeito, com cada detalhe dela.
E não poderia viver sem isso.
Nesse momento eu me assusto, repasso o que acabei de pensar:
Eu não poderia viver nem mesmo sem os defeitos dela...
Logo eu. Aquilo me faz bem.

É tão claro pra mim, olhando aquele rosto, dos cabelos loiros, passando pelos olhos ainda em prantos, o nariz com pircing sensual, a boquinha pequena... Tudo foi feito pra mim, isso me faz um bem indescritível.
Ali, na minha frente, está tudo o que eu sempre quis.
E tudo isso está explodindo dentro do meu peito, querendo sair de qualquer forma, eu não sou mais capaz de resistir.
Como um milagre em forma de palavras, eu quebro o silêncio:
“Eu te amo".
A frase mais sincera que já saiu da minha boca,
a mágica acontecendo pura e simples,
em uma noite qualquer de um dia qualquer,
o momento mais especial.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Dia de chuva

Por um instante me imaginei chutando a chuva, correndo pela rua comum de um bairro comum.
Eu estava feliz, não sabia onde estava indo e isso não fazia a menor diferença porque, no final das contas, eu só queria estar em movimento.
Não era um dia triste, longe disso. Chovia enquanto o sol brilhava.
E eu sabia que em algum lugar havia um lindo arco-íris. Isso aliviou meu coração.
O cheiro era diferente ali, o vento acariciava como nunca antes o meu corpo molhado.
A bermuda era a minha única peça de roupa. Nada de blusas, sempre as detestei. E calçados... Faça-me o favor! Nunca se é livre o suficiente com sandálias ou tênis.
Pra ser livre é preciso estar descalço, sentir o chão onde se pisa.
Em algum momento no tempo aparentemente infinito, cansei. E foi aí que eu sentei na calçada.
Pessoas passavam, algumas correndo, outras com guarda-chuva. Todas se protegendo de alguma forma.
Carros passavam velozes jogando água para tudo quanto é lado.
Eu não estava nem aí para nada, só queria curtir aquele momento.
Fiquei ali por tempo suficiente pra entender que não havia nada para ser entendido.
Em momentos como esse, você só sente... E eu senti.
Decidi voltar pra casa, um banho quente é sempre o melhor a se fazer depois de tomar chuva.

domingo, 4 de julho de 2010

A genialidade do convencimento poético

O filho se aproximou do pai e disse:
-Pai, o senhor acha que conseguiu aproveitar a vida?
-Que pergunta interessante... - ponderou ele - Interessante. Bom, eu não precisaria pensar muito para dizer que sim. É óbvio que não está nos meus planos morrer por agora, e isso seria suficientemente ruim. Mas, se acontecesse, eu poderia dizer que sim.
-Achei mesmo que fosse o que você responderia. Que bom.
-É, não há nada que traga maior tranquilidade do que poder dizer que se viveu bem.
-Com toda certeza, pai. - Dizendo isso, o garoto se virou para ir. Mas ele deu dois passos e parou.
-Pai?
-Estou ouvindo.
-Me diga sobre o seus vinte anos. O senhor se lembra de algo realmente marcante?
-Deixe-me pensar... Oh, sim. Como me lembro. Eu tinha meus vinte e poucos anos, acho que vinte e um, talvez vinte e dois. Bom, não importa. Naquele dia meu pai me emprestou o carro. Saí com meus amigos, aprontamos muito! Fomos em várias festas. Ah, eram outros tempos, havia muitas festas e você apenas entrava na casa das pessoas sem nem mesmo conhecê-las. Não havia essa violência toda, você sabe. E foi em uma daquelas casas que eu a encontrei... Sua mãe. Linda de morrer! Trocamos olhares, trocamos sorrisos, beijamo-nos. Jamais vou esquecer! - concluiu ele com olhos nostálgicos.
-Imagino. Deve ter sido um dos capítulos mais bonitos da sua história.
-Não tenha dúvidas, não tenha dúvidas.
-Pai...
-Sim meu filho - disse agora enxugando as lágrimas.
-Eu tenho 21 anos e preciso do carro. Se o senhor não me emprestar, não terei o que contar aos meus filhos.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Estamos fora

Ainda carrego comigo lembranças da Copa de 2006.
Lá estava uma seleção realmente formada por craques: Adriano, Robinho, Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Roberto Carlos, Zé Roberto, Cafu, Lúcio, Juan... Que seleção era aquela! E lá estava o meu ídolo máximo, o melhor que eu vi em campo, Ronaldo.
Mas eu vi uma seleção histórica ser destroçada por um senhor calvo e elegante que jogava com a dez. Ele mesmo, Zidane.
Como eu senti raiva naquele dia... Ver o marrento Henry comemorando o gol que nos eliminou. E pior, ver aquela seleção incrivelmente talentosa, atuar de forma tão vergonhosa. Ninguém corria, ninguém chamava a responsabilidade, ninguém deu o sangue. Raiva.
Estávamos fora.
Quatro anos se passaram e lá estávamos nós outra vez.
Nem de longe essa seleção lembrou o talento de 2006, mas eu confiei.
Primeiro porque sou Brasil acima de tudo. Independente de quem esteja lá, eu estou junto. Segundo porque era o Dunga quem estava dirigindo. Já escutei uma porção de coisas sobre ele, algumas realmente interessantes, outras, bobagens.
O Dunga foi o capitão da minha infância. O cara que eu respeitava dentro do campo, que gritava com qualquer um e com todo mundo. Um capitão de verdade.
Nunca vou esquecer ele erguendo a taça em 94. Nunca vou esquecer ele comemorando a conversão do pênalti em 98.
Capitão desde o Sub-20, três copas do mundo, duas finais, tetra campeão mundial.
Se foi cabeça dura? Foi. Mas esse é o Dunga. Acreditou no grupo, caminhou com o grupo, morreu com o grupo.
Estamos fora.
O Felipe Melo é um juvenil! A camisa 9 do Ronaldo pesou pro Luis Fabiano. Me comovi com o choro do Kaká, mas isso não muda o fato de ele não ter conseguido ser protagonista em uma Copa. E o Robinho... O Robinho... Deixa pra lá.
Fizemos tudo diferente de 2006, fomos eliminados nas quartas como em 2006.
Mas não posso concordar que foi a mesma coisa, porque não foi.
Hoje eu vi um time limitado que se esforçou, que tentou, que buscou... Correram e lutaram. Se fomos eliminados, foi por incompetência, não por displicência.
Hoje eu não senti raiva, senti tristeza.
Estamos fora.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Carpe Diem

Caminhou embaraçosamente pela caçada fria e deserta.
Não sabia como as coisas haviam chegado naquele ponto. Ele estava lá, o tempo todo, mas não sabia dizer.
De uma hora pra outra elas foram acontecendo, algumas tomando forma, outras se desfazendo diante dos seus olhos.
Era ali que se encontrava naquele momento, a cabeça vazia, o peito cheio.
E pensando bem era exatamente daquela forma que ele queria que estivesse, porque era mesmo com o peito que falaria.
É claro que a coragem não veio como vem um desejo. A não, essa tal tem vontade própria. Mas ele não deixaria de estar na presença dela naquela noite jamais.
E a chamou da forma mais poética e bonita que um ser humano poderia, pelo auto convencimento verdadeiro.
Ele pensou sozinho alguns minutos antes...
"A vida está acontecendo nesse momento. E eu tenho poucos desses, porque a vida é curta. E se daqui a pouco, quando eu descer do ônibus, viesse um homem desesperado com a própria vida e ao tentar me assaltar, me desse um tiro? Bom, provavelmente eu morreria. E isso já seria ruim o suficiente. Mas poderia ser pior. E se viesse um anjo como nos filmes, vestido de branco, sei lá, e me perguntasse se eu estaria indo embora feliz, se eu havia feito tudo o que eu tive vontade, o que será que eu responderia? Eu responderia... Não".
É por isso que ele estava ali, é por isso que ele seguia mesmo com as pernas vacilantes. Ele estava escrevendo a própria história, estava substituindo a frustração certa, pela dúvida do tentar. E convenhamos, tentar é viver.
Finalmente chegou na porta do bar, ali estava cheio e barulhento. Ela estava sentada em uma mesa na calçada, sozinha. Sorriu quando o viu voltar.
"Oi". Foi o que ele disse. Se ela respondeu e o convidou pra sentar, se eles conversaram por horas e nunca se ligaram, se casaram e tiveram filhos, se viraram grandes amigos, ou quem sabe viveram uma paixão dessas que só se vive uma vez na vida... Nada disso importa. O que importa, é que ele tentou.
E agora já poderia dizer sim ao anjo de branco.

domingo, 25 de abril de 2010

Conversa de despedida

A Senhora me desculpe.
Mas veja bem, as coisas não podem ser como queremos que seja, não é verdade?
Não posso carregar mais uma vida nas costas, não dessa vez. Eu não estou preparado... Ainda.
A liberdade é onde estou, e nela perecerei. Não é ruindade, nem má vontade! O que seria ainda pior, terá que concordar.
Não é que eu tenha medo dos seus defeitos, medos ou fracassos.
Eu temo por algo muito mais sério e perigoso, pelo seu sorriso. Porque, se eu aceitar o que os seus olhos me pedem agora, não poderei permitir, nem por um momento, que você deixe de sorrir.
E eu sei que vou falhar, não seria a primeira vez.
Não chore... Não...
Está bem. Chore.
Ainda bem que está acontecendo assim, o choro vindo antes. Mais tarde você sorrirá. Se eu estivesse tendo a postura que gostaria, aconteceria justamente o contrário.
Senhora... Senhora. Você sabe o que passei? Sabe quantas marcas existem no meu coração?
Eu só estou evitando que você se aproxime do jardim seco e esquecido que existe aqui.
Quem sabe um dia, minha Senhora, nos encontraremos. E aí, eu possa ter mais para lhe oferecer.
Mas hoje não, hoje eu só tenho o medo de tentar. Um medroso, é isso o que sou.
Desculpe-me.

terça-feira, 20 de abril de 2010

FINAL - Mentes criminosas - Capítulo 5: Batman e Coringa

Capítulo 1 - O quarto

Capítulo 2 - Uma voz no silêncio

Capítulo 3 - Olhos azuis de plástico

Capítulo 4 - Um oscar


FINAL

Capítulo 5 – Batman e Coringa


Então era isso. Moisés Darmandes, o grande criminoso, havia se passado o tempo todo por Marcos Correa. Que por sua vez estava amarrado na cama com a boca tapada, sem chance de fazer qualquer coisa para evitar aquilo.

O verdadeiro Darmandes se aproximou do velho Marcos Correa preso na cama e tirou a fita de sua boca.
-Darmandes, seu desgraçado! - bravejou o velho - Você me paga filho da puta!
-Acalme-se velho policial, ou vai enfartar.
-Desgraçado! – continuou o velho parecendo não se importar.
-No fundo eu sei que você está encantado com minha genialidade. Haha.
-Não sou um bandido Darmandes, mas sei pensar como um! Você tem algum informante na merda da policia, sabia que eu me passaria por você hoje. Então só esperou que eu colocasse meu plano em ação. Você esperava que eu já estivesse resolvido tudo pra você, não esperava encontrar uma ladra inteligente e um leão nesse quarto, sei que ficou desprevenido. Mas você é esperto, soube muito bem contornar a situação. Só estranho o fato de você ter arriscado tanto hoje, não é do seu feitio ter permitido uma troca de tiros nesse quarto. O que houve?
-Olha só, nem eu mesmo poderia descrever tão bem o que aconteceu. Mas você está sendo inocente meu caro, o que aconteceu é que meu informante é justamente aquele seu parceiro morto ali. - e apontou para a metade do corpo do homem para fora do guarda-roupa.
-Você usou o Emerson? Você é sujo Darmandes.
-Por que está indignado? Ele te traiu, eu o matei, te fiz um favor.
-Muito bem senhor sabichão, até aqui você fez o que mais sabe fazer, foi brilhante. Mas agora, a pergunta que não quer calar, como você achará o mapa? Ou não pensou ainda que a única pessoa que sabia onde ele estava está fria aí do seu lado?
-Marcos, Marcos. Depois de tantos anos você ainda me subestima? Essa mulher, como é mesmo o nome dela?
-Rosana.
-Isso! Rosana. Eu sou péssimo com nomes, mas a reconheceria em qualquer lugar do planeta. Pois bem, a Rosana. Você acha mesmo que ela correria um risco tão desnecessário?
-Do que está falando maldito?
-Uma mulher que coloca uma arma em sua mão com uma bala, apenas uma, não corresponde a alguém que gosta de se expor. Fazendo isso, ela correu o risco de você errar, mas não teria condições de atirar nela se isso acontecesse, porque você só teria uma única bala.
-Para de joguinhos de inteligência, me diga do que se trata.
-Ora Senhor Marcos Correa, leão, mulher presa de cabeça para baixo, manequim com câmera, homem dentro do guarda-roupa... O que está faltando?
-Apenas me diga desgraçado!
-Sua mãe não te deu muita educação, não é verdade? Se reparar bem, houve um propósito para tudo que esteve aqui nesse quarto essa noite. Mas há algo que ainda não mostrou o seu propósito, algo que estava aqui desde o momento em que entrei correndo por aquela porta, algo que esteve com você todo o tempo... Exatamente! A mochila.
-Não, não é possível!
-Claro que é. Rosana jamais colocaria uma bomba dentro de uma mochila correndo o risco de morrer por causa disso. Dentro da mochila deve haver algumas bobagens para te convencer que havia uma bomba e, no meio disso, um frágil objeto que guiou todos os acontecimentos dessa noite e, por que não, dos últimos meses. O mapa está em suas costas, meu caro.
-Não! Maldito! Maldito!
Com a faca, Darmandes cortou as alças da mochila que estava com Marcos e de dentro tirou um amassado e velho papel. Desembrulhou e olhou para um mapa. Sorriu ao fazer isso. Então virou de costas e se encaminhou para a porta do quarto. Antes de sair disse:
-Te encontro em outra oportunidade então policial.
-Você não vai me matar?
-Te matar? Claro que não! Há anos que brincamos de cão e gato, eu me divirto tanto! Haha. Você conhece o Batman? Pois é, você é o Batman, eu sou o Coringa. Nós nos completamos, eu sou um agitador, um agente do caos. Minha função é disseminar o mal, e a sua, evitar. Se eu te mato, Marcos, eu perco a minha função. Por isso, assim como o Coringa quer o Batman vivo, eu também te quero vivo. Eu jamais mataria o Batman.
Marcos o olhou da cama como quem vê uma mente perigosa, pois era ao mesmo tempo brilhante e doentia.
Darmandes deu mais dois passos e parou.
-Mentira. Eu mataria o Batman. E também o Coringa.
E acertou a testa do policial.


Fim.


domingo, 11 de abril de 2010

Mentes criminosas - Capítulo 4: Um Oscar

Capítulo 1 - O Quarto

Capítulo 2 - Uma voz no silêncio

Capítulo 3 - Olhos azuis de vidro


Capítulo 4: Um Oscar

Com sua experiência, Marcos esperou que ela tivesse tempo para reestruturar sua posição. Então ele disse:
-Respire. Se ele te quisesse morta, você já estaria. Está viva, e há um propósito nisso, não há dúvidas. Eu poderia apostar que ele quer que você me mate. Mas, se você fizer isso, morrerá em seguida, então... Você está em uma situação difícil aqui. O que vai ser?
-Cala a boca! Estou pensando. - disse ela.
-Não pense, não há tempo para isso. Só vou dizer uma vez, se atirar em mim você morre! – ao dizer isso, ele se voltou para o guarda-roupa - Você! Abaixe essa arma agora ou juro que atirarei nele!
Houve um momento de solidão, que foi quebrado por uma voz vinda do guarda-roupa.
-Você não fará isso, sei que não. - A voz era grave e vagarosa.
-Pense bem, você está apontando uma arma pra ela, que está apontando uma arma pra mim que, por minha vez, estou apontando para o seu chefe. Todos nós morreremos aqui e agora.
-Você não pensou claramente dessa vez. Eu atiro nela, ela atira em você, você atira nele e eu fico com o mapa.
Marcos, pela segunda vez na noite, deu um sorriso de "eu sou bom nisso".
-Finalmente obtive a informação que tanto queria. Então se trata de um mapa? Ótimo. E não, eu não estava errado. Não mirarei na cabeça de Moisés, mirarei na mochila. Todos nós morreremos, meu caro.
-Eu temeria, se fosse o Darmandes ou a mocinha ali, mas não você. Sua missão não é acabar com vidas, é salvá-las.
-Só há um jeito de descobrirmos.
-Você é que manda!
O homem escondido no guarda-roupa atirou no coração da mulher, e duas vidas foram apagadas naquele momento. Foi tão rápido que ela não teve tempo de atirar. Mas Marcos previu que isso aconteceria e atirou também quase que no mesmo instante. Mas não foi em Darmandes. Ele atirou na direção do guarda-roupa. Após os ouvidos se acostumarem ao que o barulho dos tiros provocou, e a fumaça do seu revolver se desfazer no ar, Marcos agachou perto da mulher e conferiu seus batimentos. Realmente estava morta. Pegou o detonador com cuidado e o examinou. Em seguida, foi até o corpo caído entre o guarda-roupa e o chão. Havia um cadáver, um homem de aproximadamente trinta anos, mas já apresentando calvície. Era magro e estava bem vestido, apesar da barba mal feita. Mexeu em seus bolsos e encontrou uma carteira de identificação.
-Veja só, o que temos aqui. - disse ele balançando a carteira de policial para Moisés. - Você deve estar louco pra acabar comigo depois disso. Haha. Mas convenhamos, eu me passando por você foi digno de Oscar, não foi Correa? Opa, desculpa, esqueci que você não pode falar no momento.

Na próxima semana, o último capítulo da série! Descubra como será o final em: Capítulo 5 - Batman e Coringa!

sexta-feira, 26 de março de 2010

Mentes criminosas: Capítulo 3 - Olhos azuis de plástico

Capítulo 1 - O quarto


Capítulo 2 - Uma voz no silêncio



Capítulo 3 - Olhos azuis de plástico


"Obrigada por me libertar, minha cabeça já estava pesada.", ironizou ela.
Primeiramente Marcos se sentiu idiota, mas depois admitiu a si mesmo que fora um plano genial. O tempo todo, a vítima era quem estava por trás de tudo. Decidiu falar:
-Se eu não temesse levar um tiro, te aplaudiria agora mesmo.
-Bom você levará um tiro de qualquer forma... Então, se quiser aplaudir, fique à vontade.
-Como?
-Bem...
-Não, eu não estou falando disso. Eu sei que essa mochila não está aqui de enfeite, há algum explosivo nela, provavelmente uma bomba de curto alcance, o suficiente para mandar nosso velho homenzinho pro espaço. E eu admito que deve ter sido complicado se prender ali em cima, mas nada que algumas aulas de contorcionismo não pudessem dar um jeito. Também sei que ele acertaria a jaula, claro que sei, o nosso senhor Moisés é um dos melhores atiradores que tive notícias. Não estou falando disso. Tampouco estou falando de um leão estar nesse quarto, algo impactante é verdade, mas eu já presenciei coisas mais peculiares, se me permite dizer. O que eu realmente queria saber é como você não percebeu? - Mesmo de costas, ele soube que ela ficara desconcertada, a arma em sua nuca vacilou por um instante e ele pôde sentir um certo incômodo.
-Não percebi o quê? - A voz dela já não era tão letal.
-Você sabe com quem está se metendo? Esse homenzinho sentado aqui na frente chama-se Moisés Darmandes. É um dos ladrões mais procurados nos tempos modernos, desses que só se encontram em filmes. Acha que, por mais esperta que pode ser, conseguiria pegá-lo com tanta facilidade? Acha que uma bomba, um leão e um pouco de tinta vermelha na cabeça poderia detê-lo? - Ela não disse uma única palavra como Marcos previu, por isso ele continuou - Você pode ser incalculavelmente talentosa, mas ele é genial. E sim, isso faz toda a diferença.
-Você está blefando.
-Quem sabe? Eu posso estar te enrolando e ganhando tempo, pra tentar alguma coisa... Ou, eu posso estar falando a verdade e nós dois já estamos mortos.
-Não acredito que acha que pode inverter a situação, eu tenho uma arma na sua nuca e, se nós dois por acaso vamos morrer, eu mesma te matarei. E com prazer, devo dizer.
-Não, você não quer morrer. Você nem mesmo quer me matar. Achou que poderia dobrar um ladrão brilhante e um policial esforçado, mas só conseguiu se envolver até o pescoço.
-Você fala demais, está na hora de te calar.
-Ótimo, é uma opção que você tem. Mas como policial que deve preservar vidas, te aconselharia a escolher o melhor alvo. Não sei se percebeu o manequim na parede, quebrado. Ele não está ali por acaso. Eu apostaria que há câmeras naqueles olhos azuis de plástico. E que há uma quarta pessoa no quarto, dentro do guarda-roupa.
Um sorriso alto e longo, dessa vez sem um pingo de nervosismo, foi solto pela mulher.
-Você estava quase me convencendo. Foi realmente interessante, mas acho que exagerou.
-Não, eu não sou exagerado, nunca fui. Mas o senhor aqui cuja minha arma está em sua cabeça, ah ele é. E mais do que exagerado, ele é ousado. Olhe para o seu próprio peito.
Sem precisar olhar, Marcos sabia que os olhos dela haviam encontrado o laser vermelho que apontava direto para o seu coração.


Continua.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Mentes criminosas: Capítulo 2 - Uma voz no silêncio

Bom, finalmente saiu o segundo capítulo de Mentes criminosas! Peço desculpas pela demora, infelizmente passei por problemas de saúde. De qualquer forma, aí está! Espero que gostem.

Para quem perdeu o começo, leia. - Mentes criminosas, Capítulo 1: O quarto


Aos poucos, Marcos começou a recobrar os sentidos e a razão. O impacto inicial começou a se desfazer, de forma que ele teve condições de pensar. E de observar. A sua primeira preocupação foi com a mulher presa de cabeça para baixo, ela estava machucada em algum ponto da face e sangrava bastante. Parecia estar inconsciente.
Do lado oposto onde estava, havia uma jaula com espaço suficiente para o leão que nela se encontrava. O que diabos um leão estaria fazendo ali? Do lado esquerdo, encontrava-se o homem com a mochila, sentado na cama de casal com lençóis branquinhos e de costas para ele. Marcos apontava a arma firme para o homem, enquanto teve tempo para reparar em um manequim estragado ao lado, um guarda-roupa antigo e uma mesinha de centro.
"Senhor Moisés, levante as mãos, agora!" - O homem continuou sentado e imóvel.
Marcos manteve a sua posição e ordenou mais uma vez. A cena não se alterou.
Então, o homem começou a se mexer vagarosamente, Marcos segurou firme na arma. "Senhor, não tente nada, eu estou apontando diretamente para a sua cabeça, qualquer movimento e eu não vou hesitar em atirar!" - Moisés continuou a se mexer até que um tiro foi ouvido.
A jaula onde estava o leão se abriu com o tiro na fechadura, e o animal saltou para fora como um predador que não come há muito tempo, direto para a mulher.
Marcos correu com tudo que pôde, pisando na mesinha de centro saltou para cima com o máximo de impulso ao mesmo tempo em que tirava a faca guardada em sua perna. Com um movimento ele soltou a mulher. Sabia que a queda não seria das melhores, mas não havia o que fazer, o leão já havia saltado em direção a ela também.
Homem e animal se encontraram no ar e caíram ao mesmo tempo. O leão caiu e tombou com a faca cravada em seu pescoço, e Marcos caiu com a arma apontada exatamente na cabeça de Moisés.
"Acabou, você está preso".
Com um susto, percebeu que o homem estava com a boca tapada com fita, assim como suas mãos, inclusive a que estava com a arma apontada para um único lugar: a jaula.
Antes que pudesse tomar qualquer atitude sentiu uma arma na nuca, e uma voz feminina, calma e sexy, se fez diante do silêncio de espanto: "Nem um movimento".

Como sabem, continua na próxima semana.

domingo, 14 de março de 2010

Mentes criminosas: Capitúlo 1 - O quarto

Era o apartamento 106. Havia um certo ar de solidão naquele andar, mas nada parecia tão distante e frio quanto aquele apê.
Foi pensando nisso que Marcos Correa se permitiu a dois, talvez três minutos antes de bater.
Toc toc. Nada pôde ser ouvido. Toc toc. Nada.
"Abra, senhor Moisés, preciso falar com o senhor. Agora."
Não obteve nenhum tipo de resposta.
Tentou, talvez por um estimulo fora do campo racional a maçaneta e, pra sua surpresa, ela cedeu.
O cômodo estava bastante escuro. Parecia muito com uma sala, sim era isso mesmo, o sofá denunciara.
Olhou demoradamente tentando detalhar tudo o que a visão lhe mostrava. Ele era bom nisso, conseguia com facilidade guardar detalhadamente cenas, fisionomias e acontecimentos.
Sofá, televisão, mesinha de centro, relógio na parede, luz com ventilador, quadros, janela aberta, cortina fechada...
Não havia nada de excepcional ali. Preferiu adentrar sem ascender nenhum tipo de luz, teve a impressão que seria mais prudente daquela forma, embora estaria mais vulnerável.
Caminhou vagarosamente, os tapetes ajudaram bastante nesse propósito.
Passou pela cozinha como se ali não houvesse uma entrada, de alguma forma, sabia que não era ali onde sua experiência o levaria. Finalmente chegou ao final do cômodo, onde havia um corredor.
Um sorriso bem familiar de seus amigos, da irmã e principalmente da mãe, apareceu em sua face. Era um sorriso de quem diz, "Eu sou bom nisso". Havia uma luz que saia por entre a fresta da última porta.
Correu como se de repente o silêncio fosse dispensável, e a pressa um tesouro a ser usado.
Empurrou com toda a força que pôde a porta deixando que a luz inundasse sua visão já acostumada às trevas.
O cérebro é como um sábio que está sempre à frente do seu discípulo. Ele prepara a mente para possíveis acontecimentos, tentando sempre premeditar o que está por vir. É uma das formas mais fascinantes de nos manter vivos. Mas, quando o que nos é apresentado foge totalmente ao que foi antecipado, as dificuldades de se compreender o que está acontecendo e, naturalmente de reação, são enormes.
Marcos sentiu isso. Pela primeira vez na vida não conseguiu ter a dimensão da cena.
O quarto era inesperadamente espaçoso e pouco decorado. Tudo era muito branco e claro. Mas isso só foi sentido por ele de uma forma tangencial. O seu foco se concentrou em coisas, digamos, muito mais chamativas. Havia um leão enjaulado, uma mulher presa de cabeça para baixo e um homem de mochila.


Continua na próxima semana.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Relógio aos tubarões

Seu Domingos era o dono do tempo. Se alguém precisasse das horas era a ele que recorriam. Nunca estava atrasado ou adiantado. Sempre sabia a hora exata.
Ele tinha uma loja de relógios, a maior da região. Trabalhava de segunda a sábado, doze horas milesimamente contadas por seus inúmeros relógios.
E não só o trabalho era cronometrado. Ele sabia que horas havia nascido, a quantas horas estava sem comer, quanto tempo levava para limpar a loja e, diziam, vejam bem, que gostaria que em sua lápide escrevessem em que horas ele havia morrido.
Acontece que o Seu Domingos precisava tirar férias, já estava atrasado para isso. É que o tempo estava curto pois ele fazia horas extras.
Até que um dia ele decidiu que estava na hora. Iria tirar duzentas e quarenta horas de férias. Iria para a Inglaterra conhecer o famoso Tower Clock.
Chegou ao aeroporto pontualmente, mas descobriu que o vôo atrasaria. Isso ele não suportaria. Conseguiu que o colocassem em outro avião, que partiria na hora certa.
Durante a viagem, houve um contra-tempo, o avião teve uma pane no sistema e caiu.
Seu Domingos acordou assustado, tirou o relógio do bolso e conferiu as horas: Quatro e sete da tarde. Olhou em volta e percebeu que estava em uma ilha. Caminhou durante uma hora e trinta e sete minutos explorando o lugar. Irritou-se.
Maldita hora que resolvera tirar férias! Maldita hora para querer chegar na hora! Se tivesse esperado o avião certo, estaria no lugar certo, e a hora, a hora que se danasse!
Nos primeiros dias ele acordava às oito, caçava peixes durante vinte e três minutos, nadava por uma hora e explorava a ilha durante nove horas e cinqüenta e dois minutos divididos em dois turnos. Depois de quatrocentos e oitenta horas, percebeu que as horas não importavam ali.
Poderia fazer o que quisesse, na hora que quisesse. Jogou o relógio no fundo do mar. Decidiu que era hora de ter todo o tempo do mundo.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Big Brother Brasil

O que diferencia o ser humano dos demais animais é a racionalidade. Acho que nisso, todos concordam.
Muito bem.
Mas um homem com 100% de racionalidade e 0% de sentimentalismo não seria nada parecido com um ser humano que conhecemos.
Somos isso. Uma fusão entre razão e emoção.
Essa mistura é como uma solução supersaturada, que permanece em equilíbrio de uma forma inexplicável mas, à menor perturbação, se desfaz.
É nesse contexto que podemos explicar porque não cabe classificarmos homens em bons ou maus.
Se agimos em momentos pela razão e em outros pela emoção, temos um quadro de tanta complexidade que esse tipo de classificação seria ridículo.
Somos apenas humanos. Agimos de acordo com nossos interesses, sendo norteados por leis, normas, culturas e experiências... É assim que acontece.
Então, quando assistimos a um reality show que nos apresenta mocinhos e vilões, temos a impressão que estamos assistindo a uma novela. E é.
Esse é o principal desafio do BBB, e é isso que já há algum tempo eles estão tentando fazer.
A tentativa é fazer com que os seus personagens sejam mais humanos, que acertem aqui e errem ali sem que haja um herói capaz de sair de onze paredões, ou um vilão que saia com 99% de rejeição.
Se estão conseguindo? Não mesmo. Continuo com uma clara impressão de uma novelinha, sem ser extremista a achar que está totalmente roteirizada e com final definido, e nem que o programa esteja entregue à própria sorte e que não há nenhum tipo de tendencionismo. Muito pelo contrário, são bastante tendenciosos.
Apesar disso é um programinha legal que cumpre a função destinada de entreter. E só.
Por que eu assisto? Porque eu não sou 100% racionalidade.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Sorriso comedido

Existem pessoas que trabalham menos e se divertem mais.
Essas pessoas vão para a balada de quarta a domingo.
Elas viajam todas as férias e conhecem boa parte do mundo.
Já experimentaram coisas que você caro leitor, jamais imaginaria. E também o que acabou de imaginar. Fazem tudo o que se diz por aí que se deve fazer para aproveitar a vida.
Pois bem.
Além dessas, existem pessoas que trabalham muito e dormem pouco. Que quase não tem tempo para diversão.
Talvez possam sair de vez em quando, conhecer algum lugar legal. Mas isso é raro.
Essas pessoas têm o que alguns, de fora é claro, poderiam chamar de vida monótona, ou até medíocre.
Bem, o que eu quero dizer com esses dois tipos de grupos que se podem encontrar na sociedade (e é bom deixar claro que como se trata de um mero exemplo, eu os destituí em alto grau de suas individualidades, particularidades e diferenças, de forma a agrupá-los em larga escala) é que alguém do segundo grupo pode aproveitar a vida de forma muito mais prazerosa e intensa do que alguém do primeiro.
Acontece, que a intensidade é algo intrínseco. Parece-me óbvio que alguns possuem a capacidade e a vontade de expor isso. Mas, existe uma boa quantidade de pessoas por aí, cujo sorriso comedido esconde uma vida tão intensa e profunda, que poderia até nos emocionar.
O valor das coisas, o valor do tempo, do momento, somos nós que damos.
A intensidade pode fazer com que um dia de sol seja inesquecível.
Essa é a grande sacada da vida. Fazer valer a pena, sentir tudo o que o momento pode te fornecer, não importa se é bom ou ruim.
Temos que chorar por mais bobo que seja, nos emocionar por mais simples que seja, e sorrir sem motivos.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Haiti

A dor é tão profunda e intensa que ultrapassa a barreira do sentimento humano.
As pessoa estão em estado de choque, sentindo mas sem assimilar em todas as suas proporções as implicações da tragédia.
É como se o coração sentisse, mas o cérebro se perdesse.
Imagine você perdendo sua avó, seu pai, sua irmã, o padeiro que te atendia de manhã, aquela menina que você cumprimentava na faculdade... Todos se foram.
Imagine ver sua casa, seu trabalho, o restaurante onde costumava almoçar... Tudo no chão.
As pessoas perderam o que delimitava suas vidas, tudo o que as caracterizava como pessoa.
De repente, perderam suas identidades, suas bases e seus fios condutores.
É por isso que vagam aparentemente sem rumo.
Não sabem o que fazer, não sabem como fazer.
E infelizmente, receio que o pior ainda está por vir.
Quando puderem limpar a sujeira, enterrar os mortos e dar uma olhada em tudo, aí verão que não resta nada. Nesse momento, recobrarão a consciência, e entenderão que nada (ou quase nada) do que conheciam existe mais.
Terão que construir (infelizmente o termo é esse) um país inteiro com as próprias mãos. Não será fácil.
Mas já mostraram que são fortes, quantas histórias milagrosas já não foram gritadas para o mundo? Tantas pessoas resistiram dias sob os escombros e conseguiram sair vivas.
Se tiverem essa força, e se unirem verdadeiramente, não tenho dúvidas que conseguirão.
Torço, para que sejam fortes e possam construir um novo país, mais bonito e mais forte do que o que existia.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Um dia pro futuro

Lá estavam várias pessoas, algumas mais e outras menos próximas.
Muitos bebiam, alguns comiam e havia até quem fumasse.
E ali, entre sorrisos, violão e sombra, estavam unidos em círculo.
Boa música, sol ameno, vento refrescante.
A casa estava cheia, as pessoas estavam verdadeiramente felizes.
Não havia trabalho, dinheiro, nem doença ou qualquer preocupação.
Da avó serena e contida, marcada pelas experiências da vida e os habituais perfume e anéis, ao neto mais novo e agitado, com roupa colorida e mãos sujas, todos se sentiam completamente bem.
Era sábado, era churrasco e nada mais importava.
Alguns se enfezaram em determinado momento, mas foi por pouco tempo. Sempre é assim quando se trata de coisas pequenas.
E tudo que não fosse aquela alegria compartilhada por todos, era pequeno.
Pequeno diante da grandiosidade do momento, do valor que aquele dia teria para a história de cada um que ali estava.
Talvez nunca mais uma música tão boa será cantada e ouvida por bocas e ouvidos tão felizes.
Talvez, a comida nunca mais será tão farta e a bebida tão prazerosa.
Quem sabe não haverá nunca mais motivo qualquer para que pudessem se reunir.
Mas naquele dia havia tudo isso, e as pessoas puderam viver aquele momento.
Em algum lugar do tempo, em alguma memória calejada, em algum coração saudosista, ele sempre estará lá.
Um dia, aquela casa não será tão cheia e muitos já terão ido embora... Para sempre.
Mas haverá, em algum lugar, alguém que contará aos mais novos sobre aqueles anos dourados, em que as pessoas que amava estavam juntas e felizes.
E sentirá lágrimas salgadas nos lábios.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O Sol

As trevas tomam contam de tudo.
Para onde se olha nada pode ser visto, apenas a escuridão pode ser sentida.
Não há esperança, nem vida.
Olhos fechados para não ver, mentes distantes para não assimilar.
A alma está longe de tudo isso, refugiada em algum lugar seguro.
Poucos se aventuram em se manter presentes.
Um grave erro, eu diria.
Mas de repente, algo inesperado acontece.
Um guerreiro em forma de flecha dourada corta as trevas e uma chama de esperança reacende os corações.
Logo seus amigos se juntam a ele, e o que era um guerreiro solitário transforma-se no mais poderoso exército, capaz de resgatar das trevas tudo o que de bom existe.
E eles vão afugentando o mal, resgatando o bem, e mudando o que parecia perdido.
Então, como um ritual que acontece todos os dias mas nunca da mesma forma, o Rei aparece para ocupar seu trono no ponto mais alto!
Seu poder supremo inunda o céu, a terra e o mar. Tudo volta a ganhar vida, cor, calor.
É a coisa mais bela que os olhos podem contemplar.
Infelizmente o Rei não fica pra sempre. Alguns dizem que ele vai em busca de outros reinos, também ameaçados pelas trevas. Mas não se preocupe, ele sempre volta... Sempre.