domingo, 1 de maio de 2016

Azul

O dia que se mostrava através da minha janela provava a existência de Deus.
Era uma manhã de verão coberta de sol que brilhava no céu azul.
Sinceramente, nesse dia percebi que eu jamais conhecera o azul, pois a ideia que eu tinha dessa cor foi desfeita por aquele céu. As coisas são assim mesmo: você tem uma ideia sobre elas, mas não são mais do que meias verdades. Até porque verdades inteiras jamais existiram.
A meia verdade que eu tinha sobre o azul já não existe mais. Foi substituída por outra meia verdade, mais convincente.
E assim eu fiquei a ver o céu azul cercado por coadjuvantes imprescindíveis, como o verde das plantas do jardim de entrada e mesmo a luz do sol.
Lá fora, crianças brincavam com água. A felicidade vinha dali.
Mas então alguém fechou a janela e tudo aquilo deixou de existir. O azul foi substituído por um amarelo pálido; o vento parou de soprar, os sons ficaram abafados e a vida se perdeu.
Eu jamais tive forças pra me levantar e abrir aquela janela outra vez.
Mas pouco importou, pois o azul havia se impregnado em mim,
E um quadro eu pude pintar.