terça-feira, 27 de setembro de 2011

Rock in Rio - Eu estava lá e vou contar para os meus filhos

Por conta do meu livro eu parei de escrever aqui, mas hoje senti uma vontade imensa de atualizar eses lugar. O título antecipou propositalmente o que eu vou falar, pois bem. Eu havia prometido a mim mesmo que não discutiria o Rock in Rio com quem não foi e isso não vai mudar. Portanto, se trata de um texto absoluto, não rebaterei criticas nem comentários, tudo o que eu tenho pra dizer estará escrito e ponto. Vamos a isso.


Quando cheguei e descobri que havia uma polêmica sobre o Rock in Rio eu até assustei. Como assim estão falando mal do evento? Quero dizer, COMO ASSIM PORRA????? Depois eu ri. E ri muito!
Certa vez Amyr Klink escreveu:
"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV."

"Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser."

Isso se aplica perfeitamente ao Rock in Rio. As pessoas que não foram precisam quebrar essa arrogância que as faz ver o Rock in Rio como elas imaginam ou como viram pela tv, e não simplesmente como foi e está sendo.
Quando eu pisei na cidade do Rock eu disse cinco coisas. Na verdade, cinco palavras. Na verdade, uma única palavra cinco vezes: CARALHO, CARALHO, CARALHO, CARALHO.... CAAARALHO!!!
É indescritível.

A abertura foi de arrepiar, o telão mostrando todas as edições do evento, as pessoas puderam cantar uma vez mais "Love of my life", e claro, a arrepiante frase "O Rock in Rio voltou!" seguido dos fogos. Fodíssimo!

Eu vi pessoas que nunca se viram abraçadas, pessoas deitadas no chão, sentadas, rindo, brincando, eu vi mulheres se beijando, e mulheres mostrando o peito... Do meu lado. Eu vi cantores chorando, eu vi cantores pulando como se fosse alguém da plateia ouvindo outra pessoa! Eu vi gente casando lá! Eu vi gente rezando.
As pessoas cantavam desde o meio da tarde no ponto de ônibus na Barra, até as cinco da manhã quando voltavam pro centro da cidade. As escolas pararam na sexta, o trânsito parou, muitos não trabalharam. Cada carioca pra quem eu falava que era de Goiânia, gritava e vibrava, eles abraçaram o Brasil inteiro, eles queriam que todo mundo estivesse ali!

Agora vem nego que ficou sentado com a bunda no sofá falar que o Rock in Rio está uma merda??
Dizem que são bandas fracas? Vocês estão fumando mais que a galera no Rock in Rio! Red Hot, Slipknot, Guns, Metallica, System, Coldplay, Frejat, Skank, Capital Inicial, Titãs, Paralamas...
Eu vi os shows gravados depois, sério, é como ver um outro show.

Gostaria de falar um pouco do show do Capital.
Foram, diferentemente de vocês, nas OUTRAS edições do Rock in Rio que aconteceram aqui no Brasil. ELES PARECIAM VIRGENS TRANSANDO PELA PRIMEIRA VEZ! O Dinho perdeu a voz, correu desorientado, tirou foto, o escambau!
Se você não estava lá e não viu o Dinho apontar o dedo na cara do José Sarney, se você não cantou "É A PORRA DO BRASIL" em "QUE PAÍS É ESSE?", você não sabe do que está falando, brother. Mas não sabe mesmo!

Os caras vem falar mal porque teve Rhianna, Katy Perry, NxZero, Claudinha Leite... Como se no passado não tivesse disso também né? Nas edições passadas tocaram, Elba Ramalho, Sandy e Junior, Carlinhos Brown, Daniela Mercury, Britney Spears, N'Sync... Ah, ninguém lembrava desses daí? Ou lembravam do Carlinhos Brown porque ele foi vaiado? Eu ouvi vaias lá, vi gente jogando coisas no palco... Faz parte do festival. E ninguém lembra dessa galera, porque no final das contas o que fica é o show do Red Hot, a empolgação do Capital, a irreverencial do Stone Sour, a loucura do Slipknot!

E por falar em Stone Sour, pouco se falou sobre eles, mas fizeram uma apresentação fodíssima! O vocalista Corey Taylor, que não por acaso também é o vocalista do Slipknot, estava insano! Ao lado dele, Mike Portnoy, ex-baterista do Dream Theater, com apenas dois ensaios destruíu no palco.

Os shows dos artistas ansiosamente aguardados foram muito fodas, os shows dos artitas negligenciados, foram MUITO fodas! Todos os show foram massa pra caralho porque todos os shows compartilharam da mesma esfera de empolgação, adrenalina, loucura e satisfação que só quem pisou no chão da Cidade do Rock sentiu. Então, antes de dizer merda pergunte pra si mesmo: Eu fui? Se a resposta for não, você não tem o que falar. Não tem como falar sobre o que não viu. Se você ver Paris pela TV, jamais vai poder falar que a conhece. Então não fale do Rock in Rio.

Um abraço.



sábado, 12 de fevereiro de 2011

Genival passou para MEDICINA na UFG!

Genival soube pelo tio do amigo de um conhecido da rua de baixo (que era seu primo) que havia passado no vestibular da Universidade Federal de Goiás, PARA MEDICINA!
Ah, mas foi uma felicidade em Cocalzinho que só vendo! A família estava em festa total, disseram que até um videokê seria alugado para todo mundo se divertir. E falo sério!
Mas o Genival soube que na Capital haveria uma grande festa com uma tal vaca nervosa em homenagem aos aprovados. Pareceu divertido, decidiu ir para Goiânia.
O pai juntou todas as economias que tinha e pra lá enviou seu filho caçula.
Na rodoviária, já em Goiânia, descobriu que tinha entendido tudo errado, que na verdade o nome do parque onde seria a festa é que era Vaca, Vaca Brava. E pra lá ele foi.
Quando chegou ficou tão empolgado com toda aquela festa com milhares de pessoas, que começou a gritar o mais alto que pôde: PASSEI, PASSEI PRA MEDICINA LASQUEIRA!
Hoje ele pode dizer com toda a certeza que não foi uma boa idéia.
Primeiramente ele achou que estava sendo assaltado, começaram a tomar tudo o que ele tinha, rasgaram sua roupa, bateram nele... Mas aí, deram pinga pra ele beber. Bom, que tipo de assaltantes faria isso? Quando já não entendia mais nada, eles pararam, e um deles começou a dizer:
-Muito bem CALOURO BURRO!
-Burro? Burro eu não sô não sinhô! Passei nessa bagaça, diacho!
-CALA BOCA CALOURO! Agora vamos ver seu nome aqui na lista e dar um "ok" nele, porque o calouro que não veio vai pagar caro depois. Qual seu nome?
-Genival...
-Genival... Genival... Genival do quê?
-Genival Roberval.
-Genival Roberval... Genival... Roberval... NÃO TEM NENHUM GENIVAL AQUI CALOURO, TÁ ME ZOANDO? Você olhou certo na lista, seu nome tava lá?
-Uai, não sei. Foi meu primo que olhou, eu não tenho internet...
Todos os veteranos de Medicina o fitaram por um minuto inteiro... E então começaram a se dispersar resmungando coisas do tipo: "Não acredito nesse cara". As pessoas dos outros cursos riram e zombaram dos futuros médicos, desmoralizados pelo caipira metido a engraçadinho.
Genival levantou-se devagar, triste, pensando em como contaria aquilo para a família.
Mesmo sujo, rasgado, fedendo a ovo e levemente bêbado, conseguiu voltar para Cocalzinho com uma carona. Enquanto entrava em casa, vários quilômetros dali, em Goiânia, a turma de veteranos da Medicina Veterinaria circulava o nome "Genival" na lista dos aprovados.
"Esse Genival não veio ein, vai pagar caro", diziam.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A porta

A porta barulhenta do décimo quinto andar, daquele prédio antigo do centro, bateu seca e fria.
Aquilo demonstrava bem o que acontecera ali entre os dois: Mais uma discussão.
Ele achava que ela não o entendia. Ela se sentia só.
Foi por isso que, sem saber, discutiram. E discutiam regularmente.
Alguns minutos depois a porta se abriu excitantemente, e foi fechada com mãos de sorrisos.
Aliás, todos os dias naquele mesmo horário, o tal engravatado vinha vê-la e lhe dava com prazer carnal a ausência que sentia de sentimento.
Mas naquele dia a porta se abriu inesperadamente de forma apressada e descuidada...
Falta de sorte, diriam. Pois eu acho que uma boa estatística prova que a repetição do evento inevitavelmente conspiraria para aquilo.
Ele só saiu pela porta uma hora mais tarde, algemado e acompanhado por homens fardados.
Ela continuou por ali, remoendo as lágrimas, não se sabe se pelo morto ou pelo preso.
E quando finalmente decidiu sair, trocou a barulhenta porta pela silenciosa janela.