Seu Domingos era o dono do tempo. Se alguém precisasse das horas era a ele que recorriam. Nunca estava atrasado ou adiantado. Sempre sabia a hora exata.
Ele tinha uma loja de relógios, a maior da região. Trabalhava de segunda a sábado, doze horas milesimamente contadas por seus inúmeros relógios.
E não só o trabalho era cronometrado. Ele sabia que horas havia nascido, a quantas horas estava sem comer, quanto tempo levava para limpar a loja e, diziam, vejam bem, que gostaria que em sua lápide escrevessem em que horas ele havia morrido.
Acontece que o Seu Domingos precisava tirar férias, já estava atrasado para isso. É que o tempo estava curto pois ele fazia horas extras.
Até que um dia ele decidiu que estava na hora. Iria tirar duzentas e quarenta horas de férias. Iria para a Inglaterra conhecer o famoso Tower Clock.
Chegou ao aeroporto pontualmente, mas descobriu que o vôo atrasaria. Isso ele não suportaria. Conseguiu que o colocassem em outro avião, que partiria na hora certa.
Durante a viagem, houve um contra-tempo, o avião teve uma pane no sistema e caiu.
Seu Domingos acordou assustado, tirou o relógio do bolso e conferiu as horas: Quatro e sete da tarde. Olhou em volta e percebeu que estava em uma ilha. Caminhou durante uma hora e trinta e sete minutos explorando o lugar. Irritou-se.
Maldita hora que resolvera tirar férias! Maldita hora para querer chegar na hora! Se tivesse esperado o avião certo, estaria no lugar certo, e a hora, a hora que se danasse!
Nos primeiros dias ele acordava às oito, caçava peixes durante vinte e três minutos, nadava por uma hora e explorava a ilha durante nove horas e cinqüenta e dois minutos divididos em dois turnos. Depois de quatrocentos e oitenta horas, percebeu que as horas não importavam ali.
Poderia fazer o que quisesse, na hora que quisesse. Jogou o relógio no fundo do mar. Decidiu que era hora de ter todo o tempo do mundo.
sexta-feira, 5 de março de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Belo jogo de palavras!
Postar um comentário