domingo, 25 de abril de 2010

Conversa de despedida

A Senhora me desculpe.
Mas veja bem, as coisas não podem ser como queremos que seja, não é verdade?
Não posso carregar mais uma vida nas costas, não dessa vez. Eu não estou preparado... Ainda.
A liberdade é onde estou, e nela perecerei. Não é ruindade, nem má vontade! O que seria ainda pior, terá que concordar.
Não é que eu tenha medo dos seus defeitos, medos ou fracassos.
Eu temo por algo muito mais sério e perigoso, pelo seu sorriso. Porque, se eu aceitar o que os seus olhos me pedem agora, não poderei permitir, nem por um momento, que você deixe de sorrir.
E eu sei que vou falhar, não seria a primeira vez.
Não chore... Não...
Está bem. Chore.
Ainda bem que está acontecendo assim, o choro vindo antes. Mais tarde você sorrirá. Se eu estivesse tendo a postura que gostaria, aconteceria justamente o contrário.
Senhora... Senhora. Você sabe o que passei? Sabe quantas marcas existem no meu coração?
Eu só estou evitando que você se aproxime do jardim seco e esquecido que existe aqui.
Quem sabe um dia, minha Senhora, nos encontraremos. E aí, eu possa ter mais para lhe oferecer.
Mas hoje não, hoje eu só tenho o medo de tentar. Um medroso, é isso o que sou.
Desculpe-me.

terça-feira, 20 de abril de 2010

FINAL - Mentes criminosas - Capítulo 5: Batman e Coringa

Capítulo 1 - O quarto

Capítulo 2 - Uma voz no silêncio

Capítulo 3 - Olhos azuis de plástico

Capítulo 4 - Um oscar


FINAL

Capítulo 5 – Batman e Coringa


Então era isso. Moisés Darmandes, o grande criminoso, havia se passado o tempo todo por Marcos Correa. Que por sua vez estava amarrado na cama com a boca tapada, sem chance de fazer qualquer coisa para evitar aquilo.

O verdadeiro Darmandes se aproximou do velho Marcos Correa preso na cama e tirou a fita de sua boca.
-Darmandes, seu desgraçado! - bravejou o velho - Você me paga filho da puta!
-Acalme-se velho policial, ou vai enfartar.
-Desgraçado! – continuou o velho parecendo não se importar.
-No fundo eu sei que você está encantado com minha genialidade. Haha.
-Não sou um bandido Darmandes, mas sei pensar como um! Você tem algum informante na merda da policia, sabia que eu me passaria por você hoje. Então só esperou que eu colocasse meu plano em ação. Você esperava que eu já estivesse resolvido tudo pra você, não esperava encontrar uma ladra inteligente e um leão nesse quarto, sei que ficou desprevenido. Mas você é esperto, soube muito bem contornar a situação. Só estranho o fato de você ter arriscado tanto hoje, não é do seu feitio ter permitido uma troca de tiros nesse quarto. O que houve?
-Olha só, nem eu mesmo poderia descrever tão bem o que aconteceu. Mas você está sendo inocente meu caro, o que aconteceu é que meu informante é justamente aquele seu parceiro morto ali. - e apontou para a metade do corpo do homem para fora do guarda-roupa.
-Você usou o Emerson? Você é sujo Darmandes.
-Por que está indignado? Ele te traiu, eu o matei, te fiz um favor.
-Muito bem senhor sabichão, até aqui você fez o que mais sabe fazer, foi brilhante. Mas agora, a pergunta que não quer calar, como você achará o mapa? Ou não pensou ainda que a única pessoa que sabia onde ele estava está fria aí do seu lado?
-Marcos, Marcos. Depois de tantos anos você ainda me subestima? Essa mulher, como é mesmo o nome dela?
-Rosana.
-Isso! Rosana. Eu sou péssimo com nomes, mas a reconheceria em qualquer lugar do planeta. Pois bem, a Rosana. Você acha mesmo que ela correria um risco tão desnecessário?
-Do que está falando maldito?
-Uma mulher que coloca uma arma em sua mão com uma bala, apenas uma, não corresponde a alguém que gosta de se expor. Fazendo isso, ela correu o risco de você errar, mas não teria condições de atirar nela se isso acontecesse, porque você só teria uma única bala.
-Para de joguinhos de inteligência, me diga do que se trata.
-Ora Senhor Marcos Correa, leão, mulher presa de cabeça para baixo, manequim com câmera, homem dentro do guarda-roupa... O que está faltando?
-Apenas me diga desgraçado!
-Sua mãe não te deu muita educação, não é verdade? Se reparar bem, houve um propósito para tudo que esteve aqui nesse quarto essa noite. Mas há algo que ainda não mostrou o seu propósito, algo que estava aqui desde o momento em que entrei correndo por aquela porta, algo que esteve com você todo o tempo... Exatamente! A mochila.
-Não, não é possível!
-Claro que é. Rosana jamais colocaria uma bomba dentro de uma mochila correndo o risco de morrer por causa disso. Dentro da mochila deve haver algumas bobagens para te convencer que havia uma bomba e, no meio disso, um frágil objeto que guiou todos os acontecimentos dessa noite e, por que não, dos últimos meses. O mapa está em suas costas, meu caro.
-Não! Maldito! Maldito!
Com a faca, Darmandes cortou as alças da mochila que estava com Marcos e de dentro tirou um amassado e velho papel. Desembrulhou e olhou para um mapa. Sorriu ao fazer isso. Então virou de costas e se encaminhou para a porta do quarto. Antes de sair disse:
-Te encontro em outra oportunidade então policial.
-Você não vai me matar?
-Te matar? Claro que não! Há anos que brincamos de cão e gato, eu me divirto tanto! Haha. Você conhece o Batman? Pois é, você é o Batman, eu sou o Coringa. Nós nos completamos, eu sou um agitador, um agente do caos. Minha função é disseminar o mal, e a sua, evitar. Se eu te mato, Marcos, eu perco a minha função. Por isso, assim como o Coringa quer o Batman vivo, eu também te quero vivo. Eu jamais mataria o Batman.
Marcos o olhou da cama como quem vê uma mente perigosa, pois era ao mesmo tempo brilhante e doentia.
Darmandes deu mais dois passos e parou.
-Mentira. Eu mataria o Batman. E também o Coringa.
E acertou a testa do policial.


Fim.


domingo, 11 de abril de 2010

Mentes criminosas - Capítulo 4: Um Oscar

Capítulo 1 - O Quarto

Capítulo 2 - Uma voz no silêncio

Capítulo 3 - Olhos azuis de vidro


Capítulo 4: Um Oscar

Com sua experiência, Marcos esperou que ela tivesse tempo para reestruturar sua posição. Então ele disse:
-Respire. Se ele te quisesse morta, você já estaria. Está viva, e há um propósito nisso, não há dúvidas. Eu poderia apostar que ele quer que você me mate. Mas, se você fizer isso, morrerá em seguida, então... Você está em uma situação difícil aqui. O que vai ser?
-Cala a boca! Estou pensando. - disse ela.
-Não pense, não há tempo para isso. Só vou dizer uma vez, se atirar em mim você morre! – ao dizer isso, ele se voltou para o guarda-roupa - Você! Abaixe essa arma agora ou juro que atirarei nele!
Houve um momento de solidão, que foi quebrado por uma voz vinda do guarda-roupa.
-Você não fará isso, sei que não. - A voz era grave e vagarosa.
-Pense bem, você está apontando uma arma pra ela, que está apontando uma arma pra mim que, por minha vez, estou apontando para o seu chefe. Todos nós morreremos aqui e agora.
-Você não pensou claramente dessa vez. Eu atiro nela, ela atira em você, você atira nele e eu fico com o mapa.
Marcos, pela segunda vez na noite, deu um sorriso de "eu sou bom nisso".
-Finalmente obtive a informação que tanto queria. Então se trata de um mapa? Ótimo. E não, eu não estava errado. Não mirarei na cabeça de Moisés, mirarei na mochila. Todos nós morreremos, meu caro.
-Eu temeria, se fosse o Darmandes ou a mocinha ali, mas não você. Sua missão não é acabar com vidas, é salvá-las.
-Só há um jeito de descobrirmos.
-Você é que manda!
O homem escondido no guarda-roupa atirou no coração da mulher, e duas vidas foram apagadas naquele momento. Foi tão rápido que ela não teve tempo de atirar. Mas Marcos previu que isso aconteceria e atirou também quase que no mesmo instante. Mas não foi em Darmandes. Ele atirou na direção do guarda-roupa. Após os ouvidos se acostumarem ao que o barulho dos tiros provocou, e a fumaça do seu revolver se desfazer no ar, Marcos agachou perto da mulher e conferiu seus batimentos. Realmente estava morta. Pegou o detonador com cuidado e o examinou. Em seguida, foi até o corpo caído entre o guarda-roupa e o chão. Havia um cadáver, um homem de aproximadamente trinta anos, mas já apresentando calvície. Era magro e estava bem vestido, apesar da barba mal feita. Mexeu em seus bolsos e encontrou uma carteira de identificação.
-Veja só, o que temos aqui. - disse ele balançando a carteira de policial para Moisés. - Você deve estar louco pra acabar comigo depois disso. Haha. Mas convenhamos, eu me passando por você foi digno de Oscar, não foi Correa? Opa, desculpa, esqueci que você não pode falar no momento.

Na próxima semana, o último capítulo da série! Descubra como será o final em: Capítulo 5 - Batman e Coringa!