terça-feira, 21 de outubro de 2014

A rua

O moço da esquina saiu do seu portão pequeno assim que o sol nasceu.
Deu bom dia ao vizinho que ia na outra direção, cumprimentou a gari e atravessou a rua.
Estava indo tomar o seu café de sempre na padaria ao lado.
Passou pela senhora bem apessoada do outro quarterão, ela não o olhou,
embora soubesse que ele a estava olhando.
Andando como madame ela seguiu pela calçada em direção ao ponto de ônibus.
Deu um "oi" discreto para a menina do caixa, que lá de dentro do supermercado retribuiu, 
e parou na casinha para comprar sitpass.
Naquele momento o rapaz da bicicleta passou por ela gritando "Amiga!".
Diziam que ele não era bom da cabeça, mas era excelente do coração.
Rapaz puro, como dizem. Um coitado, talvez.
Ele foi com sua bicicleta velha até a papelaria que já abria as portas
e quase atropelou o cara das tatuagens.
Aquele ali era alto e corpulento, sempre de cara fechada, mas era boa gente.
Praguejou contra o menino enquanto desviava da bicicleta
e passou reto sem cumprimentar o senhor do jogo do bicho. Fez bem.
Se tratava de um senhor velho e tarado, diziam que por culpa da idade.
Era bicheiro, mas não sabia nada sobre a confusão no Senado.
Embora soubesse 
muito bem que a politica nada tinha de bom.
"Os preços não param de subir!", dizia com frequência. 
Ele arrumou os óculos e olhou pro outro lado da rua, de onde vinha o carioca que há muito morava ali. 
Vinha com a camisa do Flamengo e ouviu de alguém que passava em um carro popular, "E o Mengão?". 
"Aquele time é ruim demais, ô timinho feio!", gritou ele em resposta.
E logo acenou para o senhor da esquina que deixava a padaria.

Naquela hora os meninos já saiam pras escolas, as pessoas iam para o ponto de ônibus e os carros
passavam apressados. O moço da esquina entrou de volta no seu pequeno portão.
Era assim todos os dias.

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