Capítulo 2 - Uma voz no silêncio
Capítulo 3 - Olhos azuis de plástico
"Obrigada por me libertar, minha cabeça já estava pesada.", ironizou ela.
Primeiramente Marcos se sentiu idiota, mas depois admitiu a si mesmo que fora um plano genial. O tempo todo, a vítima era quem estava por trás de tudo. Decidiu falar:
-Se eu não temesse levar um tiro, te aplaudiria agora mesmo.
-Bom você levará um tiro de qualquer forma... Então, se quiser aplaudir, fique à vontade.
-Como?
-Bem...
-Não, eu não estou falando disso. Eu sei que essa mochila não está aqui de enfeite, há algum explosivo nela, provavelmente uma bomba de curto alcance, o suficiente para mandar nosso velho homenzinho pro espaço. E eu admito que deve ter sido complicado se prender ali em cima, mas nada que algumas aulas de contorcionismo não pudessem dar um jeito. Também sei que ele acertaria a jaula, claro que sei, o nosso senhor Moisés é um dos melhores atiradores que tive notícias. Não estou falando disso. Tampouco estou falando de um leão estar nesse quarto, algo impactante é verdade, mas eu já presenciei coisas mais peculiares, se me permite dizer. O que eu realmente queria saber é como você não percebeu? - Mesmo de costas, ele soube que ela ficara desconcertada, a arma em sua nuca vacilou por um instante e ele pôde sentir um certo incômodo.
-Não percebi o quê? - A voz dela já não era tão letal.
-Você sabe com quem está se metendo? Esse homenzinho sentado aqui na frente chama-se Moisés Darmandes. É um dos ladrões mais procurados nos tempos modernos, desses que só se encontram em filmes. Acha que, por mais esperta que pode ser, conseguiria pegá-lo com tanta facilidade? Acha que uma bomba, um leão e um pouco de tinta vermelha na cabeça poderia detê-lo? - Ela não disse uma única palavra como Marcos previu, por isso ele continuou - Você pode ser incalculavelmente talentosa, mas ele é genial. E sim, isso faz toda a diferença.
-Você está blefando.
-Quem sabe? Eu posso estar te enrolando e ganhando tempo, pra tentar alguma coisa... Ou, eu posso estar falando a verdade e nós dois já estamos mortos.
-Não acredito que acha que pode inverter a situação, eu tenho uma arma na sua nuca e, se nós dois por acaso vamos morrer, eu mesma te matarei. E com prazer, devo dizer.
-Não, você não quer morrer. Você nem mesmo quer me matar. Achou que poderia dobrar um ladrão brilhante e um policial esforçado, mas só conseguiu se envolver até o pescoço.
-Você fala demais, está na hora de te calar.
-Ótimo, é uma opção que você tem. Mas como policial que deve preservar vidas, te aconselharia a escolher o melhor alvo. Não sei se percebeu o manequim na parede, quebrado. Ele não está ali por acaso. Eu apostaria que há câmeras naqueles olhos azuis de plástico. E que há uma quarta pessoa no quarto, dentro do guarda-roupa.
Um sorriso alto e longo, dessa vez sem um pingo de nervosismo, foi solto pela mulher.
-Você estava quase me convencendo. Foi realmente interessante, mas acho que exagerou.
-Não, eu não sou exagerado, nunca fui. Mas o senhor aqui cuja minha arma está em sua cabeça, ah ele é. E mais do que exagerado, ele é ousado. Olhe para o seu próprio peito.
Sem precisar olhar, Marcos sabia que os olhos dela haviam encontrado o laser vermelho que apontava direto para o seu coração.
Continua.