Ela ia começar a escrever um texto. Um texto sobre qualquer coisa que fluísse. Um texto daqueles que você faz de madrugada, depois de ter visto fotos ainda recentes de antigos amigos. Ela pretendia que ele se desenrolasse de uma frase que tinha em mente, uma frase apenas que doía no peito cada vez que ameaçava cuspi-la, e talvez por isso sempre a mantivesse muda. Escreveu: Quero meus amigos de volta. Eram três da manhã, e no exato segundo que clicou o ponto final, foi surpreendida por uma palavra de afeto, de uma amiga inesperada, num contexto inesperado. Quis chorar, quis sorrir, tremeu um pouco e pensou até em ignorar o sinal. Típico. Mas resolveu dar uma chance ao que, se ela acreditasse, chamariam de acaso. No caminhar da conversa, foi entendendo que se tratava mesmo de álcool e carência, e que o fato de provavelmente ser uma das únicas pessoas disponíveis no horário, fez com que ela fosse procurada naquele momento. Foi atenciosa, e respondeu tudo com muito carinho. Não era nada especial, não era uma tentativa de reparação. Porém, para ela, ainda sim era um sinal. Algo que ela definitivamente não conseguiria e nem saberia lidar. Mas que, por uma noite, depois de tantas carregadas de culpa, a faria se lembrar como era dormir tranquilamente com, no lugar de tantos desconfortáveis, um peso que a agradava sem tamanho. O da amizade.
Texto escrito por @jejesantana.