terça-feira, 28 de setembro de 2010

Admirável "peso" novo

Ela ia começar a escrever um texto. Um texto sobre qualquer coisa que fluísse. Um texto daqueles que você faz de madrugada, depois de ter visto fotos ainda recentes de antigos amigos. Ela pretendia que ele se desenrolasse de uma frase que tinha em mente, uma frase apenas que doía no peito cada vez que ameaçava cuspi-la, e talvez por isso sempre a mantivesse muda. Escreveu: Quero meus amigos de volta. Eram três da manhã, e no exato segundo que clicou o ponto final, foi surpreendida por uma palavra de afeto, de uma amiga inesperada, num contexto inesperado. Quis chorar, quis sorrir, tremeu um pouco e pensou até em ignorar o sinal. Típico. Mas resolveu dar uma chance ao que, se ela acreditasse, chamariam de acaso. No caminhar da conversa, foi entendendo que se tratava mesmo de álcool e carência, e que o fato de provavelmente ser uma das únicas pessoas disponíveis no horário, fez com que ela fosse procurada naquele momento. Foi atenciosa, e respondeu tudo com muito carinho. Não era nada especial, não era uma tentativa de reparação. Porém, para ela, ainda sim era um sinal. Algo que ela definitivamente não conseguiria e nem saberia lidar. Mas que, por uma noite, depois de tantas carregadas de culpa, a faria se lembrar como era dormir tranquilamente com, no lugar de tantos desconfortáveis, um peso que a agradava sem tamanho. O da amizade.

Texto escrito por @jejesantana.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Deus

Hoje eu vi Deus em uma criança.
Ela não sabia bem o que estava acontecendo em volta, mas logo aprenderá.
Ela ganhará presentes legais no natal, chorará no primeiro dia de escola, e se apaixonará aos 11 anos por um garoto que provavelmente nunca saberá disso.
E logo ela se preocupará com o corpo, se irritará com a forma como o pai a trata, como se ela ainda fosse uma menininha quando, na verdade, já tinha treze!
Terá uma linda e inesquecível festa de quinze anos.
E se decepcionará com o primeiro namorado.
Muito provavelmente ela se casará, terá filhos.
Conhecerá lugares bonitos, terá um livro predileto, e sofrerá quando sair da casa dos pais.
Terá mais dias felizes do que triste, ainda bem! E sentirá saudades de quando ainda podia ser quem ela quisesse.
Mas, inevitavelmente, se perguntará um dia onde está Deus.
Quem Ele é, onde esteve durante todo esse tempo.
Ela terá se esquecido, ou talvez nunca soube, que é em vão tentar pensar em Deus de forma racional. Tentar explicá-lo.
Deus não é uma equação matemática, embora esteja nela.
Pode até ser que ela consiga, mas a melhor forma de entender Deus, é sentindo.
Se ela conseguir ver isso, perceberá que Deus esteve no sorriso do melhor amigo de infância dela, que Ele esteve no lindo dia de Sol no clube certa vez, que era Ele na imensidão do cerrado quando foi acampar com a escola. Ela se lembrará Dele na música da formatura do irmão, na primeira vez que andou de avião, no jardim da casa dela.
Logo perceberá que Deus esteve em cada momento que ela viveu, em cada emoção que sentiu, cada derrota e cada pensamento. Ele esteve em tudo.
Então, ela verá Deus em si mesma, como um dia eu vi.